LIVRO: ADÔNIS - NASCER, MORRER, RENASCER E PROGREDIR SEMPRE, TAL É A LEI.
AUTORA: ZENAIDE DA LUZ
ILUSTRAÇÕES: CARMELITA ARAÚJO.
TEMA: A MORTE E SEUS MISTÉRIOS.
ÊXITO EDITORA LTDA.
28 PÁGS. /FORMATO: 16X22mm
CRIANÇAS ACIMA DE 9 ANOS.
“ADÔNIS, trás uma visão espiritualista do processo da morte e crescimento espiritual numa linguagem bem acessível à criança. Fala de um tema difícil de forma acessível, usando a fantasia e personagens que fazem parte da vida psicológica infantil. Mostra como podemos nos transformar através da força do amor, ensina-nos a viver o presente. A importância de conquistar nosso espaço e de lutar pelo que acreditamos. Leva a criança a questionar sobre sua própria existência, sobre diversos comportamentos, despertando a curiosidade e condição de analisar questões de difícil entendimento”
Este livro permite trabalhos integrados em diversas matérias estudadas pelas crianças.:
LÍNGUA PORTUGUESA:
1- Conversar com as crianças sobre a morte e o sentimento de perda;2- Provocar um debate, após o trabalho do item religião, comparando as diferentes visões da morte nas diversas correntes filosóficas. Cada grupo de alunos defenderá uma corrente;
3- Uso do dicionário, para conhecimento das palavras novas;
4- Fazer pesquisa sobre a existência de gnomos e/ou elementares;
5- Para discutir o tema morte de uma forma leve, fazer teatralização de um enterro na sala de aula. O morto poderá ser um sentimento desagradável. Para tal atividade, sugerimos a professora que consulte o texto em anexo “enterro do não consigo”.
6- Provocar um debate sobre um trecho do livro onde o gnomo aconselha a rosa a aceitar seu corpo de rosa e perfumar o jardim, esquecendo a revolta de não ser um animal e poder se locomover, fica mais fácil para entender a vida e amá-la. O que você acha desta visão?
7- Fazer redação trabalhando com o tema: O que precisamos aceitar em nós mesmos?
8- O garoto do livro só consegue mudar seu comportamento violento, após se sentir sozinho e triste, não tendo com quem conversar e pensando sobre a própria vida, consegue ter espaço mental para ouvir a rosa. Faça uma redação sobre este tema: “Quem não tem medo do silêncio, consegue ouvir as vozes do universo.”
9- Após a aplicação do último item, propor a sala um momento de meditação com suave música relaxante. Antes do exercício, explicar rapidamente o que vem a ser meditação.
RELIGIÃO:
10- Pesquisar em Bíblias de várias correntes religiosas, o Capítulo XV, de II Coríntios, quando o Apóstolo Paulo, descreve o corpo espiritual; Qual a visão do apóstolo a cerca da morte? O que ele entende por ressurreição? Como cada religião interpretou este capitulo? 11- Pesquisar nas diversas religiões como cada uma encara o processo da morte, definindo assim qual a corrente filosófica que pertence a autora;
12- Cantar a música o ar (o vento) do compositor Vinicius de Morais e comparar nossa alma com o vento, nós não enxergamos mais existe.
CIÊNCIAS:
13- Laboratório: Estudo sobre as rosas e suas diversas cores;14- Pesquisar sobre a metamorfose da lagarta para borboleta;
15- Estudar a lei natural: Nascer, Crescer, Reproduzir e Morrer.
16- Pesquisar o que vem a ser uma ciência chamada TANATOLOGIA;
17- Pesquisar sobre casos de casos de quase morte.
EDUCAÇÃO ARTISTICA:
18- Colagem de Figurinhas;19- Fazer rosas de papel crepom, espalhando pela sala como um grande jardim;
20- Desenhar flores, borboletas e gnomos confeccionando um painel.
21- Interpretar o texto através de desenhos livres
HISTÓRIA:
22- Pesquisar na mitologia sobre a lenda de Adônis. Porque a autora deu este título ao livro;
APROVEITANDO O LIVRO, VAMOS ESTUDAR O TEMA MORTE:
Seis respostas: como falar de morte com as crianças
O vovô foi para o céu, o cachorro virou uma estrelinha. Será que essas explicações ajudam a criança a lidar com a morte?
Uma semana depois da morte de um aluno de 9 anos em um incidente ainda não esclarecido, os estudantes do colégio adventista, em Embu, São Paulo, voltaram às aulas. Para eles, ficou a difícil tarefa de lidar com a perda de um colega.
A morte é um assunto difícil de entender até para os adultos. Para os pequenos é ainda mais confuso. Por isso, eles precisam de todo o apoio e sinceridade nos momentos em que devem encarar a perda de uma pessoa próxima. Especialistas explicam o que fazer ou não nessas horas.
1. A partir de que idade se deve falar de morte com as crianças?
Não existe idade certa para tocar no assunto. O ideal é que se espere a necessidade, seja pelo falecimento de alguém conhecido ou a curiosidade do pequeno. “Aos 4 ou 5 anos as crianças começam a entender as relações da vida e a ter acesso maior às informações”, explica o coordenador do curso de Tanatologia (Educação para a Morte) da Disciplina de Emergências Clínicas da FMUSP, Franklin Santana Santos. O que se deve fazer é ir educando seu filho através de exemplos práticos do ciclo da natureza. Semeie uma plantinha e vá mostrando como ela nasce, cresce, adoece e morre. Aquele feijãozinho plantado no algodão pode ser um ótimo aliado. Cantigas, livros infantis e filmes que tratam do assunto também ajudam.
São três pontos que as crianças precisam ir compreendendo com a sua ajuda: a universalidade – tudo que é vivo um dia vai morrer –, a irreversabilidade – quando morre, não há volta – e a não funcionabilidade – depois de morto, o ser não corre, não dorme, não pensa, não age. “As crianças personificam a morte. Imaginam que ela seja uma figura da qual podem escapar ou enganar. É preciso explicar que não é assim”, diz Franklin.
2. Crianças podem ir a velórios ou enterros?
Não se pode forçar, mas elas se beneficiam de participar junto aos adultos deste ritual de passagem. “Explique direitinho o que é um velório e um enterro e pergunte se ela quer ir. Mas nunca decida pela criança a deixá-la de fora”, indica Silvana Rabello, professora do curso de psicologia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Os rituais servem para que todos vivenciem melhor a despedida, inclusive os pequenos. E não se preocupe: os especialistas concordam que velórios e enterros não traumatizam as crianças.
3. Como contar para elas que alguém que conhecem morreu?
Não esconda nada, muito menos invente histórias para poupar os pequenos. Frases como “ele dormiu para sempre”, “descansou” ou “fez uma longa viagem” só vão confundir a cabeça infantil. Crianças levam tudo ao pé da letra e podem achar que a vovó vai acordar ou que todo mundo que viaja nunca volta.
É muito comum também usar a famosa “o vovô virou uma estrelinha”, que pode levar a criança a acreditar nisso literalmente e ficar elaborando maneiras de chegar até ele. “As crianças de até cerca de 10 anos não abstraem. O seu psiquismo em construção não consegue captar os conceitos subjetivos. Elas pensam de forma concreta e constroem os conceitos a partir do concreto”, enfatiza Deusa Samú, psicóloga clínica especialista em luto.
4. E se a pessoa for muito próxima?
Se a morte for por doença, a criança deve estar a par de todo o processo. Explique que a pessoa está doente e que é grave, lembre do ciclo da vida da plantinha. “Não fale de sopetão. Mas, quando acontecer, use sempre a palavra ‘morte’. Isso é bastante importante para que ela entenda”, ensina Franklin. Se a morte for inesperada, é preciso ser direta e sincera. Abra espaço para tirar todas as dúvidas que podem estar passando pela cabeça do pequeno. Não é necessário esconder as emoções, mas observe se sua atitude não está traumatizando as crianças.
5. Quando ela pergunta o que significa morrer, como explicar?
“Primeiro, elabore seus próprios conceitos sobre a morte e sobre a possível continuidade da vida, porque só poderemos responder às crianças respeitando nossa própria verdade”, aconselha Deusa.
Depois, explique que nem todos pensam como papai e mamãe. Dê as versões de outras religiões, inclusive do ateísmo. Mais uma vez vem o conselho de todos os especialistas: “seja honesta”. Nem sempre você terá todas as respostas. Que tal dizer “não sei” e se propor a buscar as explicações junto com seu filho?
6. Qual a melhor forma de ajudar a criança durante o luto?
Demonstre que, como ela, você também está sofrendo e sente saudades. Deixe que a criança fale sobre seus sentimentos e, acima de tudo, dê apoio e acolhimento. Garanta que ela nunca estará sozinha e sempre haverá alguém para cuidar dela. Isso porque o ente que se foi pode ser um dos pais ou o pequeno pode começar a pensar na mortalidade deles.
“Não exclua as crianças das conversas, da tristeza. Ouça o que elas têm pra falar ou peça para que desenhem o que estão sentindo”, indica Silvana.
É natural que os pequenos apresentem mudanças de comportamento depois que recebem a notícia da morte de alguém com quem convivem. Além do choro e da raiva, alguns começam a ir mal na escola, ficam hiperativos ou fazem xixi na cama. Considere a ajuda de um psicólogo e até da escola. É importante que a criança sinta que tem o apoio e a atenção dos colegas e dos professores.
Como acontece com os adultos, a memória afetiva nunca vai desaparecer. Mas, depois de certo tempo, acontece o chamado luto saudável, quando se percebe que é possível se lembrar do ente querido de forma leve e sem sofrimento.
Texto extraído do site:http://delas.ig.com.br/filhos/seis+respostas+como+falar+de+morte+com+as+criancas/n1237794785122.html
Não existe idade certa para tocar no assunto. O ideal é que se espere a necessidade, seja pelo falecimento de alguém conhecido ou a curiosidade do pequeno. “Aos 4 ou 5 anos as crianças começam a entender as relações da vida e a ter acesso maior às informações”, explica o coordenador do curso de Tanatologia (Educação para a Morte) da Disciplina de Emergências Clínicas da FMUSP, Franklin Santana Santos. O que se deve fazer é ir educando seu filho através de exemplos práticos do ciclo da natureza. Semeie uma plantinha e vá mostrando como ela nasce, cresce, adoece e morre. Aquele feijãozinho plantado no algodão pode ser um ótimo aliado. Cantigas, livros infantis e filmes que tratam do assunto também ajudam.
São três pontos que as crianças precisam ir compreendendo com a sua ajuda: a universalidade – tudo que é vivo um dia vai morrer –, a irreversabilidade – quando morre, não há volta – e a não funcionabilidade – depois de morto, o ser não corre, não dorme, não pensa, não age. “As crianças personificam a morte. Imaginam que ela seja uma figura da qual podem escapar ou enganar. É preciso explicar que não é assim”, diz Franklin.
2. Crianças podem ir a velórios ou enterros?
Não se pode forçar, mas elas se beneficiam de participar junto aos adultos deste ritual de passagem. “Explique direitinho o que é um velório e um enterro e pergunte se ela quer ir. Mas nunca decida pela criança a deixá-la de fora”, indica Silvana Rabello, professora do curso de psicologia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Os rituais servem para que todos vivenciem melhor a despedida, inclusive os pequenos. E não se preocupe: os especialistas concordam que velórios e enterros não traumatizam as crianças.
3. Como contar para elas que alguém que conhecem morreu?
Não esconda nada, muito menos invente histórias para poupar os pequenos. Frases como “ele dormiu para sempre”, “descansou” ou “fez uma longa viagem” só vão confundir a cabeça infantil. Crianças levam tudo ao pé da letra e podem achar que a vovó vai acordar ou que todo mundo que viaja nunca volta.
É muito comum também usar a famosa “o vovô virou uma estrelinha”, que pode levar a criança a acreditar nisso literalmente e ficar elaborando maneiras de chegar até ele. “As crianças de até cerca de 10 anos não abstraem. O seu psiquismo em construção não consegue captar os conceitos subjetivos. Elas pensam de forma concreta e constroem os conceitos a partir do concreto”, enfatiza Deusa Samú, psicóloga clínica especialista em luto.
4. E se a pessoa for muito próxima?
Se a morte for por doença, a criança deve estar a par de todo o processo. Explique que a pessoa está doente e que é grave, lembre do ciclo da vida da plantinha. “Não fale de sopetão. Mas, quando acontecer, use sempre a palavra ‘morte’. Isso é bastante importante para que ela entenda”, ensina Franklin. Se a morte for inesperada, é preciso ser direta e sincera. Abra espaço para tirar todas as dúvidas que podem estar passando pela cabeça do pequeno. Não é necessário esconder as emoções, mas observe se sua atitude não está traumatizando as crianças.
5. Quando ela pergunta o que significa morrer, como explicar?
“Primeiro, elabore seus próprios conceitos sobre a morte e sobre a possível continuidade da vida, porque só poderemos responder às crianças respeitando nossa própria verdade”, aconselha Deusa.
Depois, explique que nem todos pensam como papai e mamãe. Dê as versões de outras religiões, inclusive do ateísmo. Mais uma vez vem o conselho de todos os especialistas: “seja honesta”. Nem sempre você terá todas as respostas. Que tal dizer “não sei” e se propor a buscar as explicações junto com seu filho?
6. Qual a melhor forma de ajudar a criança durante o luto?
Demonstre que, como ela, você também está sofrendo e sente saudades. Deixe que a criança fale sobre seus sentimentos e, acima de tudo, dê apoio e acolhimento. Garanta que ela nunca estará sozinha e sempre haverá alguém para cuidar dela. Isso porque o ente que se foi pode ser um dos pais ou o pequeno pode começar a pensar na mortalidade deles.
“Não exclua as crianças das conversas, da tristeza. Ouça o que elas têm pra falar ou peça para que desenhem o que estão sentindo”, indica Silvana.
É natural que os pequenos apresentem mudanças de comportamento depois que recebem a notícia da morte de alguém com quem convivem. Além do choro e da raiva, alguns começam a ir mal na escola, ficam hiperativos ou fazem xixi na cama. Considere a ajuda de um psicólogo e até da escola. É importante que a criança sinta que tem o apoio e a atenção dos colegas e dos professores.
Como acontece com os adultos, a memória afetiva nunca vai desaparecer. Mas, depois de certo tempo, acontece o chamado luto saudável, quando se percebe que é possível se lembrar do ente querido de forma leve e sem sofrimento.
Texto extraído do site:http://delas.ig.com.br/filhos/seis+respostas+como+falar+de+morte+com+as+criancas/n1237794785122.html
TRECHO FINAL DO FILME: O PEQUENO PRINCIPE:
Medo do medo - Lya Luft"
Querendo ser politicamente corretos, estamos cometendo um triste engano, deformando histórias e até cantigas que fazem parte do nosso imaginário mais básico"
Tenho observado alguns esforços psicopedagógicos no sentido de tornar nossas crianças politicamente corretas - postura que muitas vezes nos transforma em seres tediosos, sem graça nem fervor. Contos de fadas, por exemplo, alimento da minha alma de criança, raiz de quase toda a minha obra adulta, sobretudo romances e contos, foram originalmente - dizem estudiosos -narrativas populares, orais, de povos muito antigos. Assim eles representavam e tentavam controlar seus medos e dúvidas, carentes das quase excessivas informações científicas de que hoje dispomos. Nascimento e morte, sexo, sol e lua, raios e trovões, o brotar das colheitas lhes pareciam misteriosos, portanto fascinantes.
Muito mais recentemente, escritores como Andersen e os irmãos Grimm adaptaram tais relatos ao mundo infantil e criaram suas maravilhosas histórias, que unem, como a vida real, o belo e o sinistro. Uma sereia quer pernas para namorar seu príncipe na praia, mas o sacrifício é terrível, a cada passo de suas novas pernas, dores inimagináveis a dilaceram. Uma princesa, sua família, séquito e criados do castelo dormem um sono profundo, maldição de uma fada má, e só serão libertados pelo príncipe salvador - que, é claro, sempre aparece. Branca de Neve, Rapunzel e dezenas de outros personagens alimentaram nossa fantasia e continuam a alimentar a das crianças que têm sorte, cujos pais e escolas lhes proporcionam contato cotidiano com esses livros.
Porém, faz algum tempo, há um movimento para reformular tais relatos, tirando-lhes sua essência, isto é, o misterioso e até o assustador. Lobos seriam bobalhões e vovozinhas umas pândegas, só existiriam fadas boas, e as bruxas, ah, essas passam a ser velhotas azaradas. Até cantigas de roda seculares tendem a ser distorcidas, pois atirar um pau num gato é uma crueldade, como se fosse preciso explicar isso para as crianças saberem que animais a gente ama e cuida - se é assim que se faz em casa.
Vejo em tudo isso um engano e um atraso. Impedindo nossas crianças do natural contato com essas antiquíssimas histórias, que retratam as possibilidades boas e negativas do mundo, nós as deixamos despreparadas para a vida, cujos perigos entram hoje em seus quartos, rondam escolas e clubes, esperam na esquina com um revólver na mão de um drogado, ou de um psicopata lúcido e frio, sem falar nos insidiosos pedófilos na internet.
Estamos emburrecendo nossas crianças e jovens, mesmo querendo seu bem? E, afinal, o que será o seu bem? Ignorar o que existe de sombrio e mau, caminhar feito João e Maria alegrinhos, não abandonados pelos pais, mas procurando borboletas no mato? Receio que a gente esteja cometendo um triste engano, deformando histórias e até cantigas que fazem parte do nosso imaginário mais básico com arquétipos humanos essenciais.
Em compensação, adolescentes e crianças procuram o encanto do misterioso lendo sobre vampiros, bruxos e avatares, vendo seus filmes e pesquisando na internet. Por que isso? - me perguntou recentemente um pai. Porque, neste momento de altíssima tecnologia, a alma humana busca a expectativa, o segredo e o susto. Precisa conhecer o mal para se acautelar e se proteger, o belo e o bom para crescer com esperança. Mas nós, pedagogos e pais, nem sempre seguros e informados, começamos a querer alisar excessivamente a estrada para eles, não lhes ensinando que o mal existe, assim como o bem, que o belo nos atrai, assim como o monstruoso, e que é preciso desenvolver discernimento (gosto dessa palavra), isto é, a capacidade de entender e distinguir o melhor do pior, a fim de fazer com mais clareza e segurança as inevitáveis escolhas.
Mas se, porque isso nos tranquiliza, tratamos as crianças como imbecis, e queremos nosso adolescente infantilizado por um longo tempo, exigindo-o cada vez menos em casa, na escola e nas universidades - embora deixando que se sexualize de forma precoce e criminosa -, vai ser difícil que tenham informação, capacidade de julgar e escolher, que seriam nosso maior e melhor legado para elas.
Lya Luft é escritora - EDIÇÃO DA SEMANA - ACERVO DIGITAL
Lya Luft Medo do medo - Edição 2158 - Revista VEJA.htm
Querendo ser politicamente corretos, estamos cometendo um triste engano, deformando histórias e até cantigas que fazem parte do nosso imaginário mais básico"
Tenho observado alguns esforços psicopedagógicos no sentido de tornar nossas crianças politicamente corretas - postura que muitas vezes nos transforma em seres tediosos, sem graça nem fervor. Contos de fadas, por exemplo, alimento da minha alma de criança, raiz de quase toda a minha obra adulta, sobretudo romances e contos, foram originalmente - dizem estudiosos -narrativas populares, orais, de povos muito antigos. Assim eles representavam e tentavam controlar seus medos e dúvidas, carentes das quase excessivas informações científicas de que hoje dispomos. Nascimento e morte, sexo, sol e lua, raios e trovões, o brotar das colheitas lhes pareciam misteriosos, portanto fascinantes.
Muito mais recentemente, escritores como Andersen e os irmãos Grimm adaptaram tais relatos ao mundo infantil e criaram suas maravilhosas histórias, que unem, como a vida real, o belo e o sinistro. Uma sereia quer pernas para namorar seu príncipe na praia, mas o sacrifício é terrível, a cada passo de suas novas pernas, dores inimagináveis a dilaceram. Uma princesa, sua família, séquito e criados do castelo dormem um sono profundo, maldição de uma fada má, e só serão libertados pelo príncipe salvador - que, é claro, sempre aparece. Branca de Neve, Rapunzel e dezenas de outros personagens alimentaram nossa fantasia e continuam a alimentar a das crianças que têm sorte, cujos pais e escolas lhes proporcionam contato cotidiano com esses livros.
Porém, faz algum tempo, há um movimento para reformular tais relatos, tirando-lhes sua essência, isto é, o misterioso e até o assustador. Lobos seriam bobalhões e vovozinhas umas pândegas, só existiriam fadas boas, e as bruxas, ah, essas passam a ser velhotas azaradas. Até cantigas de roda seculares tendem a ser distorcidas, pois atirar um pau num gato é uma crueldade, como se fosse preciso explicar isso para as crianças saberem que animais a gente ama e cuida - se é assim que se faz em casa.
Vejo em tudo isso um engano e um atraso. Impedindo nossas crianças do natural contato com essas antiquíssimas histórias, que retratam as possibilidades boas e negativas do mundo, nós as deixamos despreparadas para a vida, cujos perigos entram hoje em seus quartos, rondam escolas e clubes, esperam na esquina com um revólver na mão de um drogado, ou de um psicopata lúcido e frio, sem falar nos insidiosos pedófilos na internet.
Estamos emburrecendo nossas crianças e jovens, mesmo querendo seu bem? E, afinal, o que será o seu bem? Ignorar o que existe de sombrio e mau, caminhar feito João e Maria alegrinhos, não abandonados pelos pais, mas procurando borboletas no mato? Receio que a gente esteja cometendo um triste engano, deformando histórias e até cantigas que fazem parte do nosso imaginário mais básico com arquétipos humanos essenciais.
Em compensação, adolescentes e crianças procuram o encanto do misterioso lendo sobre vampiros, bruxos e avatares, vendo seus filmes e pesquisando na internet. Por que isso? - me perguntou recentemente um pai. Porque, neste momento de altíssima tecnologia, a alma humana busca a expectativa, o segredo e o susto. Precisa conhecer o mal para se acautelar e se proteger, o belo e o bom para crescer com esperança. Mas nós, pedagogos e pais, nem sempre seguros e informados, começamos a querer alisar excessivamente a estrada para eles, não lhes ensinando que o mal existe, assim como o bem, que o belo nos atrai, assim como o monstruoso, e que é preciso desenvolver discernimento (gosto dessa palavra), isto é, a capacidade de entender e distinguir o melhor do pior, a fim de fazer com mais clareza e segurança as inevitáveis escolhas.
Mas se, porque isso nos tranquiliza, tratamos as crianças como imbecis, e queremos nosso adolescente infantilizado por um longo tempo, exigindo-o cada vez menos em casa, na escola e nas universidades - embora deixando que se sexualize de forma precoce e criminosa -, vai ser difícil que tenham informação, capacidade de julgar e escolher, que seriam nosso maior e melhor legado para elas.
Lya Luft é escritora - EDIÇÃO DA SEMANA - ACERVO DIGITAL
Lya Luft Medo do medo - Edição 2158 - Revista VEJA.htm
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